Visto que se encontravam em uma situação difícil, os Longs decidiram que iriam seguir friamente os mandamentos do ancião, esperando não terem de ser muito duros com Helike. O que logo demonstrar-se-ia uma tarefa quase que impossível.
O casal ficou o resto do dia refletindo se iam ou não fazer com que Flame agisse igualmente eles teriam de agir, mas acabaram por decidir, obedecendo ao amor que só os pais têm, que, se o pequenino teria de perder alguém, que fossem eles.Os dias seguintes a todos os acontecimentos na Terra foram os mais sombrios possíveis. O vilarejo permanecera de luto por longos dias, parecendo não querer esquecer os infortúnios, e a família Long sofria da decisão que viram-se obrigados a tomar.
O pobre filhote negro foi submetido a um treinamento rígido, tanto mental, quanto físico. Flame, sensibilizado pela frieza repentina dos pais para com seu irmão, aproximou-se cada vez mais de Helike e optou por segui-lo em seus treinamentos físicos, já que os mentais não lhe eram possíveis, tendo em vista que ele era muito bem tratado pelos pais, como se apenas ele fosse filho deles e Helike fosse um estranho no ninho.
Constantemente Helike tinha surtos como o que teve na Terra. Porém seu amor, mesmo que abalado, pelos seus pais era indestrutível. Ainda assim, por vezes lhe fugia do controle todo seu ser, nesses momentos seus pais se viam obrigados a usar a técnica que o ancião lhes ensinara. A técnica era capaz de, sequencialmente, imobilizar o jovem, acalmá-lo, adormecê-lo, e ainda fazê-lo esquecer os últimos acontecimentos.
O jovem dragão era inundado cada vez mais por uma tristeza e desolação avassaladoras, seu irmão quem o diga, já que lhe era o único confidente. Helike citava para ele como se sentia quando o ser dentro de si o controlava, dizia que era uma sensação de poder sem princípios, entretanto, a dor anterior e posterior a dominação era indescritível.
Flame, que agora era tudo para seu irmão, começou a ficar indagado e rancoroso perante a ação de seus pais. Certa noite, enquanto Helike dormia pesadamente, ele saiu do local no qual ele foi forçado a isolar-se e foi até perto de seus pais, pesaroso com a decisão, porém decidido em fazê-la, pelo seu irmão.
‒ Porque vocês estão agindo assim com ele!? ‒ Disse expulsando todo seu rancor naquelas palavras abafadas, já que não poderia berrar para não acordar o irmão. Entretanto, fora o suficiente para despertar os pais alarmados.
‒ Hu? O quê?-- Ah, Flame... Que fazes acordado, querido? ‒ Indagou a mãe, sonolenta, ao ver o jovem vermelho à sua frente.
Mais uma vez o pequeno escarlate disse, com mais fúria, e mais entonação ‒ Porque vocês estão tratando meu irmão desse jeito? O que ele fez de tão mal para vocês o fazerem sentir tanta dor?
Após entreolharem-se, o pai tomou a palavra, com uma expressão pesada e pesarosa ‒ Por falta de opção, Flame...
‒ Como assim?
‒ Você já deve ter notado os surtos que seu irmão tem, não é? ‒ Disse a mãe.
‒ Sim, sim e ele me disse que eles lhe doem muito!
Ambos foram pegos de surpresa, não imaginavam que a dor transpassasse os limites sentimentais, já que o ancião não tinham lhes dito que isso ocorreria, entretanto, procuraram permanecer indiferentes ao comentário e prosseguir ‒ Ele... bem... Ele é perigoso e se não fizermos isso, ele pode tornar-se ainda mais perigoso.
‒ Mesmo com todo esse treinamento físico que vocês estão submetendo-o? Ele esta ficando muito forte, esses dias eu o vi dando sua primeira baforada e um fogo negro-azulado emanou da sua boca com a potência de uma baforada de um dragão ancião! Como que ele vai ficar menos perigoso assim?
‒ Esse poder não tem relação ao perigo ao qual estamos nos referindo. ‒ Disse o pai que, respirando fundo, prosseguiu. ‒ O Helike é um dragão especial, ele é um lendário dragão negro com ornamentos de cristais. Segundo a lenda, que já se provou fato, todo o dragão como ele tem mais outro ser dentro de si, um ser maléfico e poderoso.
"Seu irmão pode parecer inocente e pacifico, de fato é, porém, se ele for fraco mentalmente, o ser facilmente o dominara, e sabe-se lá o que poderá fazer. Por isso estamos submetendo-o a este rígido tratamento e, acredite, nos dói tanto quanto nele, a noites sua mãe chora intensamente".
Após ter a afirmação confirmada, com um aceno com a cabeça dela, ele prosseguiu. ‒ Quanto ao treinamento físico, se ele não tiver forças para resistir a essas dores que você citou, quem sabe o que lhe poderia acontecer? Na verdade, apenas estávamos seguindo o que o ancião nos orientou, apenas agora que citastes sobre as dores é que entendemos o porquê do treinamento físico puxado.
"Entendeu agora, pequenino?"
Com os olhos ensopando em lágrimas, ele retrucou ‒ E porque escondem isso dele?
‒ Para que o treinamento de fato surta efeito com o menor esforço possível. Se ele soubesse que estamos fazendo isso para esta finalidade, ficaria difícil irritá-lo, logo, seria mais sofrível tanto para nós quanto para ele.
"E Flame, antes que esqueçamos, ele não pode saber disso! Entendeu? Se você quiser que seu irmão sofra menos, não lhe conte nada. Acredito que logo cessaremos esse treinamento mental, pois ele já aparenta resistir bem, e voltarmos a ser a família que deveríamos ser."
‒ Eu entendo... ‒ O jovem sentia-se desconsolado em não por não poder fazer nada pelo seu irmão a não ser permanecer ao seu lado, escorando-o. ‒ E... não há outro meio?
‒ Nenhum que não seja perigoso o suficiente para matá-lo. Ele é muito jovem ainda, o ser despertou antes do que se imaginava. Se não conseguirmos fazê-lo controlar perfeitamente a criatura, teremos de prosseguir tentando até que se possa selar-la dentro dele, mas isso só se poderá daqui dois ou três anos.
‒ Hum... entendi... ‒ Disse Flame cabisbaixo.
‒ Mais uma coisa, Flame ‒ Disse a mãe, relutante ‒ Não se afaste de seu irmão, sabemos que você é o único que tem lhe dado forças ultimamente e estamos felizes por estar fazendo isso, portanto, por favor, continue.
‒ Assim o farei.
Because this is me ₢ Helike Long