Conforme o tempo passava, um pequeno evento programado pelos pais de Helike, antes mesmo da vinda deste, se aproximava.
Conjunto ao Drunsgdom, outro planeta, não tão grande quanto este, porém igualmente belo, entrava na estação das flores, um planeta nomeado Terra.
Lá o Linsguis era chamado de Primavera, porém as mudanças no terreno do planeta eram as mesmas, exceto pelo fato o planeta ter diferença de estações entre seus hemisférios, contrario a Drungsdom, enquanto a parte mais ao norte começava a se encher de vida, a parte mais ao sul começava a abaixar sua temperatura e, em alguns lugares, encher-se de gelo.
O evento tratava de uma visita a esse planeta no intuito de curtir as temperaturas levemente elevadas, as águas do planeta, as planícies banhadas por uma única estrela, mas principalmente, viajar.
A família Long se preparou cedo para voltarem ao vilarejo e, assim, partirem com o grupo deles, esse os quais, provavelmente, já estariam se preparando também.
Quando os sóis já enchiam a manhã, o grupo com o qual a família Long iria já estava pronto no centro da província. Nesse local os anciões eram capazes de transportar a matéria de todos eles para a Terra, esta a qual fica a milhares e milhares de anos-luz de Drunsgdom.
Pouco se passou até que os últimos preparatórios, instruções e recomendações foram passados. Os anciões logo começaram a cerimônia para transportar aquele grupo de dragões até o planeta Terra. Aquele ritual envolvia muita energia e só podia ser executado uma vez por semana, desse modo dois grupos de anciões revezavam-se, um para enviar os dragões para a Terra e outro para trazê-los de volta.
Helike chegou a assustar-se com o que acontecia à sua volta. Um a um os dragões começavam a desfigurar-se e sumir em meio à luz lilás que agora tomava o redor onde antes se via os anciões e edificações rústicas. De repente começara a acontecer com ele. Sua visão foi ofuscada por um brilho lilás. Ele teve medo. E então o pequeno dragão passou a sentir uma leveza sem igual, como se passasse a flutuar, o que é diferente de voar. Quando deu por conta já estava em uma planície esverdeada e sem vim. Chegará à Terra.
A localidade em que apareceram era relativamente deserta, mas um pequeno detalhe, um pequenino ser marcou presença. Um jovem viking relaxava ali perto, relaxava até o momento que os dragões apareceram.
Toda a calmaria de espírito que o humano guardava transformou, quase que instantaneamente, em pavor e agitação. Exceto Helike, ninguém viu ele correndo colina afora, desesperadamente, o jovem dragão não entendeu muito, mas deixou isso cair no esquecimento e não comentou com ninguém, um pequeno erro, que mais tarde se mostraria crucial.
O jovem corria como jamais havia corrido alguma vez na vida, afinal, todos os vikings tinham ordens bem claras a serem cumpridas caso avistassem um dragão e ele, almejando um reconhecimento na aldeia, fez sua parte e começou a seguir as ordens que lhe foram dadas.
Ao passo de sua corrida, não demorou muito para que ele chegasse à aldeia, esta que, apesar de ser uma construção humana, era muito desorganizada e mal-arrumada, parecia que todos os artistas que por ali viviam haviam fugido a séculos.
Com uma agilidade incomum, o ser chegou, ofegante, aos departamentos do líder viking e, apesar da respiração rápida com pausas quase que insignificantes, ele contou detalhadamente o que vira e quantos vira. O governante, num movimento efêmero, ordenou que o soldado mais próximo dele fosse atrás do capitão do exército, ele iria agir e não queria perder tempo.
Helike e os demais dragões já se descontraiam nas padarias do planeta enquanto seguiam para o litoral. Tudo naquele lugar era muito pequeno, até mesmo para o jovem dragão, mas ainda assim era possível se divertir com tudo, árvores viravam gravetos para morder e impedir que outro dragão pegue, pedras viraram uma espécie de bolinha de gude, lagos era um refresco curto, mas satisfatório.
Nessa descontração o dia foi passando, mais lentamente do que se imaginava, mas passando. Quando o único sol do planeta chegou próximo ao meio do céu azul-claro sobe as colossais cabeças, eles chegaram à praia. Helike nunca havia visto tanta água no mesmo lugar.
Era um lugar simplesmente imenso, não só comparado aos dragões, mas também comparado a tudo pelo que haviam passado no caminho do litoral. Existia uma infinidade de areia tão branca quando o sol daquele planeta, firme e fina, chegava a roçar as escamas dos dragões quando eles passavam, descontrolados, por elas. As águas que banhavam a intersecção da areia com elas mesmas, eram de um tom meio esverdeado e gracioso, conforme olhava-se mais ao horizonte aquele esverdeado era trocado por um azul intenso até se fundir ao azul do céu.
Não demorou muito para que todos enchessem a água, agora quase não se via mais o horizonte, por conta dos seres colossais que haviam tomado a paisagem e Helike, que nunca foi de desperdiçar uma boa diversão, não demorou em se unir a eles e zonear.
Na comunidade viking, o comandante já estava preparando um pequeno exército que ele julgava suficiente para abater os seres demoníacos que invadiam o planeta.
‒ Toda primavera é a mesma coisa, esses seres imundos aparecem do além e querem desfrutar de nossas maravilhas, isso sem contar o fato de assustarem nossas mulheres e crianças ‒ Comentava o rei com o capitão do exército, que apenas assentia com sua cabeça oval e imensa como um ovo de avestruz. ‒ Dessa vez não! Dessa vez vamos mandar essas coisas para o lugar de onde elas vieram, para o inferno!
Após esse pequeno discurso com o capitão, ele colocou-se defronte aos guerreiros e disse umas breves palavras.
‒ Bravos e valentes guerreiros que aceitaram a tarefa de varrer aquelas criaturas malditas de nossos domínios, eu vos digo, nós somos invencíveis enquanto estivermos unidos contras esses seres, não a rabada ou baforada que desmanche nosso poder e com esse pensamento, que deve ser único e verdadeiro dentre nós, vamos derrubar cada dragão. ‒ Terminou com um grito de guerra que, sem prévio aviso, foi respondido num coro ensurdecedor.
Tomando a palavra, o capitão disse ‒ Vamos grandes sentinelas, vamos marchar rumo àqueles seres impuros e matá-los! ‒ E assim iniciou-se uma marchar rítmica e impecável, rumo ao mar, local para o qual os dragões haviam se dirigido.
Dentre aqueles soldados havia um, consideravelmente, magrelo e fraco. Este era aquele que denunciara os dragões ao líder e, com isso, fora muito bem recompensado, tendo chance de participar da marcha que tentaria derrubar os dragões. Apesar de fazer parte de uma possível guerra não parecer uma honra, naquela cultura viking, apenas os mais fortes e conhecidos podiam participar de um confronto, seja qual for ele.
Ao ser chamado para participar da linha de ataque, uma liminar de alegria encheu o coração do pequeno humano. Participar de um confronto lhe ofereceria novos caminhos, ele passaria a ser reconhecido e, possivelmente, amado.
De fato, o jovem estava receoso por ter denunciado os dragões, de certa forma, ele não tinha ódio por estes. A verdadeira vontade dele naquele momento era dizer que havia se enganado, mas ninguém lhe escutaria e também já era tarde. Agora era seguir de encontro às criaturas e torcer para que nada grave acontecesse. Ela sabia que esse otimismo não teria futuro.
Já era tarde quando o grupo de dragões começava a se reunir para voltar para o local de onde vieram. O único sol do planeta já queria pôr-se, mergulhando toda a aura do ambiente num tom âmbar, transformando as árvores de verão em árvores de outono.
Helike não queria de jeito nenhum ir embora, ele estava se divertindo muito com aquela imensidão azul, do mesmo modo que Flame, que agora brincava de guerra d’água com Helike.
Depois de muita insistência seus pais conseguiram tirar-los do mar e, rapidamente, se juntaram aos demais, que já começavam a partir.
A marcha era lenta, porém animada, todos voltavam contentes daquele dia, afinal, só podem vive-lo uma vez ao ano, e ainda pegaram um dia perfeito, sem chuvas, sem calor excessivo, simplesmente, um dia ideal. Ou ao menos era.
Poucos metros após a praia eles avistaram, ao longe, um grupo muito grande de pequenos seres desprovidos de escamas e pelos, apenas uma pele rosada nua. Eram muito pequenos comparados aos colossais dragões, mas a quantidade em que viam forçou-os a recuar um pouco.
O casal Long não pensou duas vezes, pegaram suas crias e, voando, os levaram até uma gruta não muito distante, a fim de protegê-los de eventuais perigos.
‒ Nem pensem em colocar um focinho para fora desta caverna! ‒ Dizia o pai, já um tanto alterado pela adrenalina que já corria e corroia em suas veias.
‒ Nos escutem, queridos, é pro bem de vocês.
‒ Ficaram vocês bom? ‒ Falou o pequenino negro, já assustado e com os olhos laminados em lagrimas.
‒ Voltaremos antes que percebam. ‒ E com isso os dois deixaram o local.
Flame não havia manifestado nem com expressões, ele parecia indiferente quanto a situação, completamente ao contrário de Helike, contudo, mesmo que inexpressivamente, ele estava se condoendo de medo e, principalmente, de medo de correr o risco de perder os pais, novamente.
No local onde o inevitável confronto estava prestes a acontecer, o clima era extremamente tenso, tanto para os dragões quanto para os humanos que, em maioria, já haviam perdido o otimismo para com a vitória.
Longos minutos passaram-se enquanto as duas frentes se entre olhavam, olhares inexpressíveis dominavam a cena. No caso dos humanos, o suor já começava a escorrer pela suas bochechas rosadas.
Então, tomando a frente da barricada humana, um adulto, pomposo e com ar de autoridade, iniciou um discurso breve voltado para os seus, mas terminado voltado para os dragões ‒ ...E vocês, seres encardidos, serão massacrados nesse mesmo lugar onde estão, ou senão eu não sou líder viking da aldeia de Liberte!
As palavras causaram extrema manifestação do lado humano, que agora se agitava e gritava, confiantes como nunca de que a batalha era deles, enquanto do lado dos dragões a única resposta à afronta foram rugidos inaudíveis e pequenas agitações de explicito incômodo.
Todos sabiam que não tinha para onde os dragões irem, por mais que voassem seriam abatidos, até mais facilmente se o fizessem; desse modo, com um rugido grupal ensurdecedor, todos avançaram sobre os humanos que, achando estarem em vantagem com o ataque surpresa, tiveram o feitiço voltado contra si próprios.
Because this is me ₢ Helike Long
Because this is me ₢ Helike Long