quinta-feira, 17 de março de 2011

V – Mostrando o seu verdadeiro potencial

Os humanos, pegos de surpresa pelo ataque imprevisto por parte dos dragões, mostraram-se preparados para tudo e rapidamente não só contornaram a situação, como viraram de volta contra os animais. Num movimento coletivo incrível, tendo em vista a quantidade, todos, sem exceção, desviaram do ataque dos seres colossais fazendo com que muitos caíssem, por conta do desnível causado pela distração do desconcerto.
Os que permaneceram no ar, e mais concentrados na batalha, logo retornaram e, num ataque certeiro, ceifaram a vida de uma dúzia de homens, por um triz, o jovem que havia os denunciado, escapou.
Dentre os abatidos no primeiro ataque, apenas um foi abordado por uma tropa e não consegui fugir, os demais já, no chão, devastavam outras tropas com rabadas e, vez ou outra, baforadas, procurando poupar esforços.
O combate parecia fruir bem para o lado dos dragões que, além de terem sido pegos de surpresa, estavam consideravelmente exaustos por conta do dia agitado que antecedeu o ataque.
Mas, quase que magicamente contra os seres alados, os humanos começaram a revidar de um modo espantoso, com poucos esforços muitos dragões foram parar no chão, alguns nocauteados para nunca mais levantar.
Essa revanche repentina atordoou a todos os demais, o pânico logo cobriu a nuca deles. Como conseguem nocautear um dos nossos tão facilmente ‒ Essa pergunta recorria a mente de todos. Porém, apesar de um tanto amedrontados, não recuaram, mas sim avançaram, enfrentando a morte como uma coisa que apenas lhes ameaçavas, mas nunca agia.
Helike e Flame, como era de se imaginar, desobedeceram a ordem de não deixar a caverna e foram bisbilhotar a batalha. Mal colocaram as cabeças para foram e uma lança lhes passou zunindo pro entre os chifres, fazendo-os engolir seco, porém não impedido que prosseguissem.
A cena que viram, ao subir uma pequena duna era pavorosa: Centenas e milhares de humanos formavam um verdadeiro mar à frente dos dragões, sempre avançando, por mais que muitos fossem lançados de encontro com a morte. Num outro canto dois corpos de dragões, inertes e sem vida, eram protegidos dos vorazes agressores.
Helike levou uma pata à boca horrorizado, enquanto Frame olhava enrijecido a voraz batalha e, apesar de não demonstrar, amedrontado com o seu possível desfecho. Ao pensar na possibilidade de perder novamente seus pais seus olhos inundaram-se de lágrimas, que foram contidas graças a uma vontade insistente dele de não chorar. Nem lhe passara pela cabeça a possibilidade de sua própria morte naquele lugar, coisa que o deixaria ainda mais inquieto.
‒ Precisamos nos unir a eles. ‒ Disse Helike, que agora tinha a face contorcida num rancor que lhe transfigurava. Ao ouvir essas palavras e ver sua face, Flame ficou espantado. Jamais imaginara que um dia veria o jovem irmão dizer aquilo e emanar uma energia tão negativa, do ponto de vista de poder.
‒ Mas somos apenas filhotes, que utilidade teremos? ‒ Perguntou o jovem vermelho tentando persuadir o irmão.
‒ A mesma que ficar parado naquela caverna e ver todos serem mortos para em seguida sermos mortos. Se tivermos de morrer, que seja assim. ‒ O pequenino negro jamais havia falado com tanta convicção e entonação antes, as palavras até pareciam não vir dele. De fato não vinham.
Num salto, Helike passou pelas dunas que os separavam da batalha e correu como nunca em direção a ela. Flame hesitou por alguns instantes, mas logo correu atrás dele. O pequeno negro emanava uma energia tão sombria que fazia até as plantas mais alegres a sua volta parecerem mortas por alguns instantes. Isso assustava Flame.
Logo estavam entre os demais dragões prontos para batalhar, ao menos Helike estava, Flame mostrava um grande desconforto em estar ali e ainda mais em estar ao lado dele. Agora ele estava visivelmente apavorado com a situação e com seu irmão.

Três dragões avançaram para cima de um pelotão, mas numa manobra inesperada dos humanos, eles foram cercados e se viram obrigados a ficar um de costas para os demais para poder tentar superar essa manobra dos humanos. Deu certo no começo.
Logo os três lançaram uma baforada Elemental que derrubou boa parte do pelotão e assim prosseguiram enquanto a ideia funcionava, contudo, um humano ficou entre eles sem que percebessem. Foi o suficiente para ruir a defesa deles.
Com uma arma estranha, que mais parecia três canos emendados, de forma se interligarem e com pontas bem afiadas, o soldado atingiu a nuca de um dos dragões e, de modo estranho, quando este foi soltar mais uma baforada, esta em vez de sair pela sua boca saiu pelos outros dois buracos do cano, atingindo em cheio os seus aliados. O impacto foi tão forte que os nocauteou no mesmo instante, tendo em vista terem sido acertados na região do bulbo vital.
O terceiro, ao notar que havia algo errado, provocou sua própria ruína; ele virou-se de costas para os inimigos. Ao ver que seus irmãos estavam mortos e que ele mesmo os matara, ele se jogou ao chão, em prantos, pelo que fez. Seus carrascos simplesmente ignoraram ele estar de costas e indefeso e, covardemente, o mataram.

Outro grupo avançou por um agrupamento ainda maior de humanos, desta vez voando sobre eles. Carregavam, além de seus grandiosos poderes, pedradas imensas, árvores inteiras e alguns o próprio corpo colossal. Os que carregavam pedras, lançavam-nas com tanta força que elas percorriam mais de 500 metros devastadores sem perder a intensidade, ceifando a vida de dezenas de vikings.
Por sua vez os que traziam troncos usavam-nos feito um bastão que, multiplicado pela força insuperável dos braços dos dragões, lançavam longe dúzias de homens que caiam desfalecidos no solo metros de onde estavam. Quem vinha com o próprio corpo usava-o feito uma máquina de matar, destroçando com suas garras imensas vários homens.
Por fim um pequeno agrupamento sobrou, e os dragões, que lhes retratavam a morte em carne e osso naquele momento, não lhes foram piedosos. Com uma baforada conjunta e poderosa, tiraram a vida de todos, acabando assim com um pelotão inteiro.

O casal Long avançou, conjunto a outros três dragões, sobre um dos dois últimos grupos de soldados, que não recuaram da possível derrota.
Ao mesmo tempo Helike e Flame foram atrás de outros dois dragões que avançavam sobre o grupo que, anteriormente havia matado três de seus e no instante estavam cantando a vitória, até que um foi surpreendido tendo a cabeça arrancada por uma garra gigantesca.
O grupo do casal logo descobriu que não seria uma batalha fácil, pois o pelotão que eles atacaram continha o capitão do exército, esse o qual já havia atacado e matado outros dragões em sua história. Vencê-lo seria honroso às almas que ele ceifou, todavia, isso não seria fácil.
Helike instintivamente usou seus poderosos chifres cristalinos contra um homem que, apesar de seu tamanho em relação ao jovem dragão, foi lançado longe, não morto, mas inconsciente. Este homem era o jovem viking que havia lhes denunciado e Helike reparou isso após tê-lo lançado longe.
Flame, distraído com o medo que o dominava, foi atingido na cabeça por um machado anônimo e jogado ao chão, inconsciente. Felizmente, antes que seu carrasco pudesse agir, outro dragão avançou sobre ele jogando-o longe, com uma abertura no meio do corpo e sem vida.
Para sorte dos Longs e seu grupo, o capitão já não era o mesmo que um dia já fora e, num ataque múltiplo e fatal, lhe vingaram a vida de todas as almas arrancadas de seus corpos brutalmente. Após terem derrotado o alvo principal se adiantaram sobre todos os demais soldados para pôr-lhes um ponto em sua existência.
Os outros dois dragões que vinham junto a Helike e Flame avançaram pelo chão, usando seus chifres mortalmente afiados para exterminar todos que lhe estavam à frente. Só não esperavam por uma coisa, esse agrupamento carregava como líder o líder viking¸ e este não foi piedoso ao primeiro, que não via o que tinha a sua frente. Com um movimento brutal, lançou um enorme martelo sobre a cabeça do dragão. Apesar de não ter ficado explicito nenhum dano a este, ele foi morto com o impacto violento e, desastrosamente, cambaleou até cair e parar enfrente ao viking.
Seu companheiro, ao notar a queda do mesmo, tentou refrear seu avanço, mas não foi o mais prudente, rapidamente inúmeros humanos se amontoaram sobre ele e, mais uma vez, covardemente, lhe arrancaram a vida.
Helike ficara para trás cuidado de seu irmão que estava caído e inconsciente quando notou uma massa avançando para perto deles. Liderados pelo governante, todos os vikings daquele agrupamento vinham lhes exterminar. O jovem dragão se pôs bípede, meio cambaleante, em frente ao seu irmão, de modo dizer que não iriam tocar nele.
Uma zombaria vinha dos humanos e o líder, debochadamente, dirigiu-se a ele: ‒ Você acha mesmo que pode nos impedir, besta dos infernos?
Helike retribuiu apenas com um rugido, de cabeça meio abaixada.
‒ Pois bem, então é isso que você terá! ‒ Com essa palavra ele e seus homens iniciaram uma marcha acelerada até os dois. Mais de trezentos metros ainda os separavam e Helike tantava pensar no que fazer.
Subitamente uma dor percorreu o corpo do jovem dragão fazendo-o cair ao chão. A dor era imensa e atordoante, tudo que ele se lembrará era dos vikings se aproximando rapidamente, depois, tudo esmaeceu por alguns instantes.
Uma aura esverdeada recobriu o corpo do jovem dragão, linhas verdes fosforescentes recobriram seu corpo e uma força descomunal o levantou do chão.
Ele ainda sentia uma dor insuportável, que o fazia manter seus olhos cerrados. Foi então que a dor aumentou tanto que ele sentiu vontade de gritar, como nunca antes, então, levantou a cabeça para soltar o grito de sofrimento, mas, para a surpresa dele nada saia de sua boca, exceto uma luz branca fantasmagórica, a mesma que saia de seus olhos quando ele os abriu.
Ele já não era mais Helike, a profecia do ovo se mostrará fato, e outro ser tomará conta dele, um ser de vontade própria, forças sombrias e devastadoras possuíam-o.
Então, já não tento mais controle sobre seu corpo, porém ainda ciente de tudo ao seu redor, ele pôs-se em pose de combate e, vendo que os vikings aproximaram-se dele nesse meio tempo, avançou. Seus movimentos eram tão rápidos que ele mal conseguia ver o que acontecia.
O líder foi o primeiro a ser atingido, o golpe foi monstruoso e mandou-o metros de distância dali, contudo não ao matará ainda. A partir desse primeiro golpe ele parecia uma pedra ricocheteando em outras, o dragão ia de homem em homem, ceifando-os instantaneamente.
Logo abrirá uma grande distância entre ele e seu irmão e os demais homens. Foi então que Helike sentiu um poder supremo subir por sua garganta. Quando abriu a boca uma rajada branca incandescente saiu em direção aos seus adversários encobrindo-os em sua fúria. Após isso, tudo esmaeceu novamente.
Quando recobrará a consciência, minutos após, Helike estava completamente sem forças, mal conseguia abrir os olhos, quanto menos mover-se. Ele olhou bem e viu o que causara, não restou nem cinzas dos vikings atingidos pelo seu destrutivo raio. Ele sozinho exterminou os carrascos de cinco dos seus. Com exceção de um.
O jovem que havia denunciado os dragões estava suficientemente longe de Helike para escapar do impetuoso ataque. Ele levantou cambaleante e visualizou o local. Ficou estupefato pela destruição da área e da batalha que se finalizava ao horizonte. Então ele viu os dois filhotes caídos mais a frente. Ele tinha tudo para por um fim na existência de ambos.
Pegou uma crava de um corpo caído próximo a ele e avançou, vagarosamente e cautelosamente até os dois. Cada passo parecia demorar uma eternidade tanto para ele quanto para Helike, que rosnava baixo.
Quando ficou frente a frente ao dragão, que estava impossibilitado de reagir, levantou a clava, tremendo, não sabia o porquê. Quando foi descê-la sobre o dragão, uma força falou mais alto.
A compaixão apossou-se dele, então ele jogou a clava longe, ao mesmo tempo em que se jogou enfrente ao dragão e abraçou sua cabeça, sem medo da possibilidade de perder um membro para o dragão.
Helike ficou surpreso com a reação do viking, ele jamais imaginará que o humano teria essa reação. Envolto pelo carinho oferecido pelo humano ele adormeceu exausto.

Pouco após saírem vitoriosos, o casal Long e os demais dragões foram procurar por outros sobreviventes e possíveis inimigos. Encontraram muitos dragões feridos, felizmente não gravemente, durante a busca. Cinco dragões foram mortos, e isso abalou muito a todos, afinal, era para ser um dia de diversão e não de mortes.
A noite cobria com sua penumbra todos os seres vivos e não-vivos que compunham a paisagem levemente devastada. O grupo aumentava cada vez mais, logo apenas os cinco encontrados mortos puderam ser ditos como únicos. Tranquilos por estas tudo bem, o casal dirigiu-se a caverna onde deixaram Helike e Flame.
Ao chegarem à mesma constataram que ambos não se encontravam lá. A mãe logo ficou espantada. Onde estão meus filhotes?!, pensou ela desesperada. Saíram voando da caverna e rastrearam a área próxima a ela. Então avistaram dois grandes volumes a oeste e outros três pequenos. Sem pensar em que poderiam ser, voaram até lá.
Encontraram dois dragões mortos, Flame desmaiado, Helike nos braços de um humano e uma paisagem completamente devastada, como se um rio de lava tivesse passado por ali e destruído tudo. A vontade do pai era de voar e destroçar impiedosamente o jovem humano, mas, antes que ele fosse capaz de esboçar qualquer reação, a mãe dos filhotes interveio, impedindo de fazer qualquer coisa.
Ela notará que o jovem estava chorando enquanto abraçava Helike e, depois de ser barrado, o pai notou também. Então pousaram suavemente próximo ao jovem que olhou-os um tanto assustado, mas não recuou, apenas observou-os atentamente.
Ao se aproximarem o jovem soltou o dragão e aguardou eles se aproximarem, ele notou que ambos temiam o pior, que Helike estivesse morto, então ele simboliou suavemente: ‒ Eles estão bem, este adormeceu em meus braços e o outro foi atingido, mas esta apenas inconsciente. ‒ Ele não sabia se eles haviam entendido, mas ao notar um movimento de aceitação que ambos fizeram com a cabeça notou que entenderam.
O pai pegou Helike delicadamente com a boca, enquanto a mãe pegava Flame, e com o filhote na boca ele disse mentalmente ao jovem: Obrigado. Após isso voaram até o grupo para alertar sobre os dois dragões mortos.
Quando voltaram o jovem já havia sumido, impedindo-os de esboçar algum agradecimento mais concreto. Sendo assim, voltaram ao local onde seriam transportados de volta para Drunsgdom pelos anciões, que já haviam mandado as tropas de resgate por conta do atraso.




Because this is me ₢ Helike Long

quinta-feira, 10 de março de 2011

IV – Batalha inusitada

Conforme o tempo passava, um pequeno evento programado pelos pais de Helike, antes mesmo da vinda deste, se aproximava.
Conjunto ao Drunsgdom, outro planeta, não tão grande quanto este, porém igualmente belo, entrava na estação das flores, um planeta nomeado Terra.
Lá o Linsguis era chamado de Primavera, porém as mudanças no terreno do planeta eram as mesmas, exceto pelo fato o planeta ter diferença de estações entre seus hemisférios, contrario a Drungsdom, enquanto a parte mais ao norte começava a se encher de vida, a parte mais ao sul começava a abaixar sua temperatura e, em alguns lugares, encher-se de gelo.
O evento tratava de uma visita a esse planeta no intuito de curtir as temperaturas levemente elevadas, as águas do planeta, as planícies banhadas por uma única estrela, mas principalmente, viajar.
A família Long se preparou cedo para voltarem ao vilarejo e, assim, partirem com o grupo deles, esse os quais, provavelmente, já estariam se preparando também.
Quando os sóis já enchiam a manhã, o grupo com o qual a família Long iria já estava pronto no centro da província. Nesse local os anciões eram capazes de transportar a matéria de todos eles para a Terra, esta a qual fica a milhares e milhares de anos-luz de Drunsgdom.
Pouco se passou até que os últimos preparatórios, instruções e recomendações foram passados.  Os anciões logo começaram a cerimônia para transportar aquele grupo de dragões até o planeta Terra. Aquele ritual envolvia muita energia e só podia ser executado uma vez por semana, desse modo dois grupos de anciões revezavam-se, um para enviar os dragões para a Terra e outro para trazê-los de volta.
Helike chegou a assustar-se com o que acontecia à sua volta. Um a um os dragões começavam a desfigurar-se e sumir em meio à luz lilás que agora tomava o redor onde antes se via os anciões e edificações rústicas. De repente começara a acontecer com ele. Sua visão foi ofuscada por um brilho lilás. Ele teve medo. E então o pequeno dragão passou a sentir uma leveza sem igual, como se passasse a flutuar, o que é diferente de voar. Quando deu por conta já estava em uma planície esverdeada e sem vim. Chegará à Terra.
A localidade em que apareceram era relativamente deserta, mas um pequeno detalhe, um pequenino ser marcou presença. Um jovem viking relaxava ali perto, relaxava até o momento que os dragões apareceram.
Toda a calmaria de espírito que o humano guardava transformou, quase que instantaneamente, em pavor e agitação. Exceto Helike, ninguém viu ele correndo colina afora, desesperadamente, o jovem dragão não entendeu muito, mas deixou isso cair no esquecimento e não comentou com ninguém, um pequeno erro, que mais tarde se mostraria crucial.

O jovem corria como jamais havia corrido alguma vez na vida, afinal, todos os vikings tinham ordens bem claras a serem cumpridas caso avistassem um dragão e ele, almejando um reconhecimento na aldeia, fez sua parte e começou a seguir as ordens que lhe foram dadas.
Ao passo de sua corrida, não demorou muito para que ele chegasse à aldeia, esta que, apesar de ser uma construção humana, era muito desorganizada e mal-arrumada, parecia que todos os artistas que por ali viviam haviam fugido a séculos.
Com uma agilidade incomum, o ser chegou, ofegante, aos departamentos do líder viking e, apesar da respiração rápida com pausas quase que insignificantes, ele contou detalhadamente o que vira e quantos vira. O governante, num movimento efêmero, ordenou que o soldado mais próximo dele fosse atrás do capitão do exército, ele iria agir e não queria perder tempo.

Helike e os demais dragões já se descontraiam nas padarias do planeta enquanto seguiam para o litoral. Tudo naquele lugar era muito pequeno, até mesmo para o jovem dragão, mas ainda assim era possível se divertir com tudo, árvores viravam gravetos para morder e impedir que outro dragão pegue, pedras viraram uma espécie de bolinha de gude, lagos era um refresco curto, mas satisfatório.
Nessa descontração o dia foi passando, mais lentamente do que se imaginava, mas passando. Quando o único sol do planeta chegou próximo ao meio do céu azul-claro sobe as colossais cabeças, eles chegaram à praia. Helike nunca havia visto tanta água no mesmo lugar.
Era um lugar simplesmente imenso, não só comparado aos dragões, mas também comparado a tudo pelo que haviam passado no caminho do litoral. Existia uma infinidade de areia tão branca quando o sol daquele planeta, firme e fina, chegava a roçar as escamas dos dragões quando eles passavam, descontrolados, por elas. As águas que banhavam a intersecção da areia com elas mesmas, eram de um tom meio esverdeado e gracioso, conforme olhava-se mais ao horizonte aquele esverdeado era trocado por um azul intenso até se fundir ao azul do céu.
Não demorou muito para que todos enchessem a água, agora quase não se via mais o horizonte, por conta dos seres colossais que haviam tomado a paisagem e Helike, que nunca foi de desperdiçar uma boa diversão, não demorou em se unir a eles e zonear.

Na comunidade viking, o comandante já estava preparando um pequeno exército que ele julgava suficiente para abater os seres demoníacos que invadiam o planeta.
‒ Toda primavera é a mesma coisa, esses seres imundos aparecem do além e querem desfrutar de nossas maravilhas, isso sem contar o fato de assustarem nossas mulheres e crianças ‒ Comentava o rei com o capitão do exército, que apenas assentia com sua cabeça oval e imensa como um ovo de avestruz. ‒ Dessa vez não! Dessa vez vamos mandar essas coisas para o lugar de onde elas vieram, para o inferno!
Após esse pequeno discurso com o capitão, ele colocou-se defronte aos guerreiros e disse umas breves palavras.
‒ Bravos e valentes guerreiros que aceitaram a tarefa de varrer aquelas criaturas malditas de nossos domínios, eu vos digo, nós somos invencíveis enquanto estivermos unidos contras esses seres, não a rabada ou baforada que desmanche nosso poder e com esse pensamento, que deve ser único e verdadeiro dentre nós, vamos derrubar cada dragão. ‒ Terminou com um grito de guerra que, sem prévio aviso, foi respondido num coro ensurdecedor.
Tomando a palavra, o capitão disse ‒ Vamos grandes sentinelas, vamos marchar rumo àqueles seres impuros e matá-los! ‒ E assim iniciou-se uma marchar rítmica e impecável, rumo ao mar, local para o qual os dragões haviam se dirigido.
Dentre aqueles soldados havia um, consideravelmente, magrelo e fraco. Este era aquele que denunciara os dragões ao líder e, com isso, fora muito bem recompensado, tendo chance de participar da marcha que tentaria derrubar os dragões. Apesar de fazer parte de uma possível guerra não parecer uma honra, naquela cultura viking, apenas os mais fortes e conhecidos podiam participar de um confronto, seja qual for ele.
Ao ser chamado para participar da linha de ataque, uma liminar de alegria encheu o coração do pequeno humano. Participar de um confronto lhe ofereceria novos caminhos, ele passaria a ser reconhecido e, possivelmente, amado.
De fato, o jovem estava receoso por ter denunciado os dragões, de certa forma, ele não tinha ódio por estes. A verdadeira vontade dele naquele momento era dizer que havia se enganado, mas ninguém lhe escutaria e também já era tarde. Agora era seguir de encontro às criaturas e torcer para que nada grave acontecesse. Ela sabia que esse otimismo não teria futuro.

Já era tarde quando o grupo de dragões começava a se reunir para voltar para o local de onde vieram. O único sol do planeta já queria pôr-se, mergulhando toda a aura do ambiente num tom âmbar, transformando as árvores de verão em árvores de outono.
Helike não queria de jeito nenhum ir embora, ele estava se divertindo muito com aquela imensidão azul, do mesmo modo que Flame, que agora brincava de guerra d’água com Helike.
Depois de muita insistência seus pais conseguiram tirar-los do mar e, rapidamente, se juntaram aos demais, que já começavam a partir.
A marcha era lenta, porém animada, todos voltavam contentes daquele dia, afinal, só podem vive-lo uma vez ao ano, e ainda pegaram um dia perfeito, sem chuvas, sem calor excessivo, simplesmente, um dia ideal. Ou ao menos era.
Poucos metros após a praia eles avistaram, ao longe, um grupo muito grande de pequenos seres desprovidos de escamas e pelos, apenas uma pele rosada nua. Eram muito pequenos comparados aos colossais dragões, mas a quantidade em que viam forçou-os a recuar um pouco.
O casal Long não pensou duas vezes, pegaram suas crias e, voando, os levaram até uma gruta não muito distante, a fim de protegê-los de eventuais perigos.
‒ Nem pensem em colocar um focinho para fora desta caverna! ‒ Dizia o pai, já um tanto alterado pela adrenalina que já corria e corroia em suas veias.
‒ Nos escutem, queridos, é pro bem de vocês.
‒ Ficaram vocês bom? ‒ Falou o pequenino negro, já assustado e com os olhos laminados em lagrimas.
‒ Voltaremos antes que percebam. ‒ E com isso os dois deixaram o local.
Flame não havia manifestado nem com expressões, ele parecia indiferente quanto a situação, completamente ao contrário de Helike, contudo, mesmo que inexpressivamente, ele estava se condoendo de medo e, principalmente, de medo de correr o risco de perder os pais, novamente.

No local onde o inevitável confronto estava prestes a acontecer, o clima era extremamente tenso, tanto para os dragões quanto para os humanos que, em maioria, já haviam perdido o otimismo para com a vitória.
Longos minutos passaram-se enquanto as duas frentes se entre olhavam, olhares inexpressíveis dominavam a cena. No caso dos humanos, o suor já começava a escorrer pela suas bochechas rosadas.
Então, tomando a frente da barricada humana, um adulto, pomposo e com ar de autoridade, iniciou um discurso breve voltado para os seus, mas terminado voltado para os dragões ‒ ...E vocês, seres encardidos, serão massacrados nesse mesmo lugar onde estão, ou senão eu não sou líder viking da aldeia de Liberte!
As palavras causaram extrema manifestação do lado humano, que agora se agitava e gritava, confiantes como nunca de que a batalha era deles, enquanto do lado dos dragões a única resposta à afronta foram rugidos inaudíveis e pequenas agitações de explicito incômodo.
Todos sabiam que não tinha para onde os dragões irem, por mais que voassem seriam abatidos, até mais facilmente se o fizessem; desse modo, com um rugido grupal ensurdecedor, todos avançaram sobre os humanos que, achando estarem em vantagem com o ataque surpresa, tiveram o feitiço voltado contra si próprios.



Because this is me ₢ Helike Long

quarta-feira, 2 de março de 2011

III – Mudando de casa

A semana seguinte passou tão rápido para os dois filhotes que quando deram conta já estavam de mudança para o novo lar, mas isso não era um sinal tão bom.
Os pais de Helike passaram a semana, junto aos anciões, procurando os supostos pais do pequeno dragão escarlate, contudo sem sucesso. Temia-se um trauma por parte do pequeno, afinal, perder os familiares na idade do pequeno era algo que certamente o abalaria.
Visto que os pais do pequeno ser vermelho, de fato, haviam desaparecido, o casal Long seguiu o que haviam planejado, adotar o pequeno. Como não sabiam se ele aceitaria bem isso, perguntaram-no de modo súltil, contudo sem omitir o que de fato acontecera:
‒ Bem... Não sabemos bem como lhe dizer isso, mas... Não achamos ninguém que, supostamente seriam teus pais... ‒ No mesmo instante que pronunciaram notaram que os olhos do pequenino, apesar de não ter demonstrado tristeza, estavam tão brilhosos quanto se ele estivesse se derramando em lágrimas. ‒ Portanto, como não vamos ficar mais aqui, estávamos pensando... Você gostaria de morar conosco? Ser irmão do Helike, de verdade?
Um pequeno silêncio sucedeu a pergunta até que ele, ainda falhando na fala, disse:
‒ E vou ser filhote de vocês? Vocês vão virar meus pais?
‒ Exatamente.
O pequenino abaixo a cabeça, num silêncio meditador e, então, disse:
‒ Eu... adoraria ‒ pronunciou essa última expressão levantando a cabeça e expondo um sorriso animador.
‒ Que ótimo, filho, estamos felizes em lhe dar boas vindas à família Long!
Agora quem se pronunciou foi o pai ‒ E como tal agora tu mereces um nome digno. E escolhemos Flame, Flame Long.
‒ Que nome lindo, papi!
Uma voz um tanto rouca, porém dócil e estável encheu o local, repentinamente ‒ Fla-me.. ‒ Era Helike, com um meigo sorriso no rosto, acolhendo o irmão. O filhote ainda não havia pronunciado nenhuma palavra, o que provocou uma grande surpresa à todos.

Rapidamente o tempo passou, e com a mesma velocidade Helike cresceu, e muito, tanto em estatura quanto em linguajar. O pequenino agora falava tanto que nem parecia que pouco atrás mal se expressava.
Ele agora tomará uma pose mais soberana, digna da raça a qual pertencia. Os dragões não só eram dominantes de Drunsgdom, eles também eram os seres mais majestoso que vagavam por lá.
Os dois mais novos membros da família Long tornavam os picos um local agradável e animado, todos os dias, sem cessar. A adaptação deles ao novo ambiente foi melhor do que seus pais imaginavam. Apenas o frio incomodava toda a família, por estarem a uma altitude suficiente para que o ar se tornasse mais rarefeito e a temperatura caísse o suficiente para causar inquietação aos novos inquilinos.



Because this is me ₢ Helike Long