Os humanos, pegos de surpresa pelo ataque imprevisto por parte dos dragões, mostraram-se preparados para tudo e rapidamente não só contornaram a situação, como viraram de volta contra os animais. Num movimento coletivo incrível, tendo em vista a quantidade, todos, sem exceção, desviaram do ataque dos seres colossais fazendo com que muitos caíssem, por conta do desnível causado pela distração do desconcerto.
Os que permaneceram no ar, e mais concentrados na batalha, logo retornaram e, num ataque certeiro, ceifaram a vida de uma dúzia de homens, por um triz, o jovem que havia os denunciado, escapou.
Dentre os abatidos no primeiro ataque, apenas um foi abordado por uma tropa e não consegui fugir, os demais já, no chão, devastavam outras tropas com rabadas e, vez ou outra, baforadas, procurando poupar esforços.
O combate parecia fruir bem para o lado dos dragões que, além de terem sido pegos de surpresa, estavam consideravelmente exaustos por conta do dia agitado que antecedeu o ataque.
Mas, quase que magicamente contra os seres alados, os humanos começaram a revidar de um modo espantoso, com poucos esforços muitos dragões foram parar no chão, alguns nocauteados para nunca mais levantar.
Essa revanche repentina atordoou a todos os demais, o pânico logo cobriu a nuca deles. Como conseguem nocautear um dos nossos tão facilmente ‒ Essa pergunta recorria a mente de todos. Porém, apesar de um tanto amedrontados, não recuaram, mas sim avançaram, enfrentando a morte como uma coisa que apenas lhes ameaçavas, mas nunca agia.
Helike e Flame, como era de se imaginar, desobedeceram a ordem de não deixar a caverna e foram bisbilhotar a batalha. Mal colocaram as cabeças para foram e uma lança lhes passou zunindo pro entre os chifres, fazendo-os engolir seco, porém não impedido que prosseguissem.
A cena que viram, ao subir uma pequena duna era pavorosa: Centenas e milhares de humanos formavam um verdadeiro mar à frente dos dragões, sempre avançando, por mais que muitos fossem lançados de encontro com a morte. Num outro canto dois corpos de dragões, inertes e sem vida, eram protegidos dos vorazes agressores.
Helike levou uma pata à boca horrorizado, enquanto Frame olhava enrijecido a voraz batalha e, apesar de não demonstrar, amedrontado com o seu possível desfecho. Ao pensar na possibilidade de perder novamente seus pais seus olhos inundaram-se de lágrimas, que foram contidas graças a uma vontade insistente dele de não chorar. Nem lhe passara pela cabeça a possibilidade de sua própria morte naquele lugar, coisa que o deixaria ainda mais inquieto.
‒ Precisamos nos unir a eles. ‒ Disse Helike, que agora tinha a face contorcida num rancor que lhe transfigurava. Ao ouvir essas palavras e ver sua face, Flame ficou espantado. Jamais imaginara que um dia veria o jovem irmão dizer aquilo e emanar uma energia tão negativa, do ponto de vista de poder.
‒ Mas somos apenas filhotes, que utilidade teremos? ‒ Perguntou o jovem vermelho tentando persuadir o irmão.
‒ A mesma que ficar parado naquela caverna e ver todos serem mortos para em seguida sermos mortos. Se tivermos de morrer, que seja assim. ‒ O pequenino negro jamais havia falado com tanta convicção e entonação antes, as palavras até pareciam não vir dele. De fato não vinham.
Num salto, Helike passou pelas dunas que os separavam da batalha e correu como nunca em direção a ela. Flame hesitou por alguns instantes, mas logo correu atrás dele. O pequeno negro emanava uma energia tão sombria que fazia até as plantas mais alegres a sua volta parecerem mortas por alguns instantes. Isso assustava Flame.
Logo estavam entre os demais dragões prontos para batalhar, ao menos Helike estava, Flame mostrava um grande desconforto em estar ali e ainda mais em estar ao lado dele. Agora ele estava visivelmente apavorado com a situação e com seu irmão.
Três dragões avançaram para cima de um pelotão, mas numa manobra inesperada dos humanos, eles foram cercados e se viram obrigados a ficar um de costas para os demais para poder tentar superar essa manobra dos humanos. Deu certo no começo.
Logo os três lançaram uma baforada Elemental que derrubou boa parte do pelotão e assim prosseguiram enquanto a ideia funcionava, contudo, um humano ficou entre eles sem que percebessem. Foi o suficiente para ruir a defesa deles.
Com uma arma estranha, que mais parecia três canos emendados, de forma se interligarem e com pontas bem afiadas, o soldado atingiu a nuca de um dos dragões e, de modo estranho, quando este foi soltar mais uma baforada, esta em vez de sair pela sua boca saiu pelos outros dois buracos do cano, atingindo em cheio os seus aliados. O impacto foi tão forte que os nocauteou no mesmo instante, tendo em vista terem sido acertados na região do bulbo vital.
O terceiro, ao notar que havia algo errado, provocou sua própria ruína; ele virou-se de costas para os inimigos. Ao ver que seus irmãos estavam mortos e que ele mesmo os matara, ele se jogou ao chão, em prantos, pelo que fez. Seus carrascos simplesmente ignoraram ele estar de costas e indefeso e, covardemente, o mataram.
Outro grupo avançou por um agrupamento ainda maior de humanos, desta vez voando sobre eles. Carregavam, além de seus grandiosos poderes, pedradas imensas, árvores inteiras e alguns o próprio corpo colossal. Os que carregavam pedras, lançavam-nas com tanta força que elas percorriam mais de 500 metros devastadores sem perder a intensidade, ceifando a vida de dezenas de vikings.
Por sua vez os que traziam troncos usavam-nos feito um bastão que, multiplicado pela força insuperável dos braços dos dragões, lançavam longe dúzias de homens que caiam desfalecidos no solo metros de onde estavam. Quem vinha com o próprio corpo usava-o feito uma máquina de matar, destroçando com suas garras imensas vários homens.
Por fim um pequeno agrupamento sobrou, e os dragões, que lhes retratavam a morte em carne e osso naquele momento, não lhes foram piedosos. Com uma baforada conjunta e poderosa, tiraram a vida de todos, acabando assim com um pelotão inteiro.
O casal Long avançou, conjunto a outros três dragões, sobre um dos dois últimos grupos de soldados, que não recuaram da possível derrota.
Ao mesmo tempo Helike e Flame foram atrás de outros dois dragões que avançavam sobre o grupo que, anteriormente havia matado três de seus e no instante estavam cantando a vitória, até que um foi surpreendido tendo a cabeça arrancada por uma garra gigantesca.
O grupo do casal logo descobriu que não seria uma batalha fácil, pois o pelotão que eles atacaram continha o capitão do exército, esse o qual já havia atacado e matado outros dragões em sua história. Vencê-lo seria honroso às almas que ele ceifou, todavia, isso não seria fácil.
Helike instintivamente usou seus poderosos chifres cristalinos contra um homem que, apesar de seu tamanho em relação ao jovem dragão, foi lançado longe, não morto, mas inconsciente. Este homem era o jovem viking que havia lhes denunciado e Helike reparou isso após tê-lo lançado longe.
Flame, distraído com o medo que o dominava, foi atingido na cabeça por um machado anônimo e jogado ao chão, inconsciente. Felizmente, antes que seu carrasco pudesse agir, outro dragão avançou sobre ele jogando-o longe, com uma abertura no meio do corpo e sem vida.
Para sorte dos Longs e seu grupo, o capitão já não era o mesmo que um dia já fora e, num ataque múltiplo e fatal, lhe vingaram a vida de todas as almas arrancadas de seus corpos brutalmente. Após terem derrotado o alvo principal se adiantaram sobre todos os demais soldados para pôr-lhes um ponto em sua existência.
Os outros dois dragões que vinham junto a Helike e Flame avançaram pelo chão, usando seus chifres mortalmente afiados para exterminar todos que lhe estavam à frente. Só não esperavam por uma coisa, esse agrupamento carregava como líder o líder viking¸ e este não foi piedoso ao primeiro, que não via o que tinha a sua frente. Com um movimento brutal, lançou um enorme martelo sobre a cabeça do dragão. Apesar de não ter ficado explicito nenhum dano a este, ele foi morto com o impacto violento e, desastrosamente, cambaleou até cair e parar enfrente ao viking.
Seu companheiro, ao notar a queda do mesmo, tentou refrear seu avanço, mas não foi o mais prudente, rapidamente inúmeros humanos se amontoaram sobre ele e, mais uma vez, covardemente, lhe arrancaram a vida.
Helike ficara para trás cuidado de seu irmão que estava caído e inconsciente quando notou uma massa avançando para perto deles. Liderados pelo governante, todos os vikings daquele agrupamento vinham lhes exterminar. O jovem dragão se pôs bípede, meio cambaleante, em frente ao seu irmão, de modo dizer que não iriam tocar nele.
Uma zombaria vinha dos humanos e o líder, debochadamente, dirigiu-se a ele: ‒ Você acha mesmo que pode nos impedir, besta dos infernos?
Helike retribuiu apenas com um rugido, de cabeça meio abaixada.
‒ Pois bem, então é isso que você terá! ‒ Com essa palavra ele e seus homens iniciaram uma marcha acelerada até os dois. Mais de trezentos metros ainda os separavam e Helike tantava pensar no que fazer.
Subitamente uma dor percorreu o corpo do jovem dragão fazendo-o cair ao chão. A dor era imensa e atordoante, tudo que ele se lembrará era dos vikings se aproximando rapidamente, depois, tudo esmaeceu por alguns instantes.
Uma aura esverdeada recobriu o corpo do jovem dragão, linhas verdes fosforescentes recobriram seu corpo e uma força descomunal o levantou do chão.
Ele ainda sentia uma dor insuportável, que o fazia manter seus olhos cerrados. Foi então que a dor aumentou tanto que ele sentiu vontade de gritar, como nunca antes, então, levantou a cabeça para soltar o grito de sofrimento, mas, para a surpresa dele nada saia de sua boca, exceto uma luz branca fantasmagórica, a mesma que saia de seus olhos quando ele os abriu.
Ele já não era mais Helike, a profecia do ovo se mostrará fato, e outro ser tomará conta dele, um ser de vontade própria, forças sombrias e devastadoras possuíam-o.
Então, já não tento mais controle sobre seu corpo, porém ainda ciente de tudo ao seu redor, ele pôs-se em pose de combate e, vendo que os vikings aproximaram-se dele nesse meio tempo, avançou. Seus movimentos eram tão rápidos que ele mal conseguia ver o que acontecia.
O líder foi o primeiro a ser atingido, o golpe foi monstruoso e mandou-o metros de distância dali, contudo não ao matará ainda. A partir desse primeiro golpe ele parecia uma pedra ricocheteando em outras, o dragão ia de homem em homem, ceifando-os instantaneamente.
Logo abrirá uma grande distância entre ele e seu irmão e os demais homens. Foi então que Helike sentiu um poder supremo subir por sua garganta. Quando abriu a boca uma rajada branca incandescente saiu em direção aos seus adversários encobrindo-os em sua fúria. Após isso, tudo esmaeceu novamente.
Quando recobrará a consciência, minutos após, Helike estava completamente sem forças, mal conseguia abrir os olhos, quanto menos mover-se. Ele olhou bem e viu o que causara, não restou nem cinzas dos vikings atingidos pelo seu destrutivo raio. Ele sozinho exterminou os carrascos de cinco dos seus. Com exceção de um.
O jovem que havia denunciado os dragões estava suficientemente longe de Helike para escapar do impetuoso ataque. Ele levantou cambaleante e visualizou o local. Ficou estupefato pela destruição da área e da batalha que se finalizava ao horizonte. Então ele viu os dois filhotes caídos mais a frente. Ele tinha tudo para por um fim na existência de ambos.
Pegou uma crava de um corpo caído próximo a ele e avançou, vagarosamente e cautelosamente até os dois. Cada passo parecia demorar uma eternidade tanto para ele quanto para Helike, que rosnava baixo.
Quando ficou frente a frente ao dragão, que estava impossibilitado de reagir, levantou a clava, tremendo, não sabia o porquê. Quando foi descê-la sobre o dragão, uma força falou mais alto.
A compaixão apossou-se dele, então ele jogou a clava longe, ao mesmo tempo em que se jogou enfrente ao dragão e abraçou sua cabeça, sem medo da possibilidade de perder um membro para o dragão.
Helike ficou surpreso com a reação do viking, ele jamais imaginará que o humano teria essa reação. Envolto pelo carinho oferecido pelo humano ele adormeceu exausto.
Pouco após saírem vitoriosos, o casal Long e os demais dragões foram procurar por outros sobreviventes e possíveis inimigos. Encontraram muitos dragões feridos, felizmente não gravemente, durante a busca. Cinco dragões foram mortos, e isso abalou muito a todos, afinal, era para ser um dia de diversão e não de mortes.
A noite cobria com sua penumbra todos os seres vivos e não-vivos que compunham a paisagem levemente devastada. O grupo aumentava cada vez mais, logo apenas os cinco encontrados mortos puderam ser ditos como únicos. Tranquilos por estas tudo bem, o casal dirigiu-se a caverna onde deixaram Helike e Flame.
Ao chegarem à mesma constataram que ambos não se encontravam lá. A mãe logo ficou espantada. Onde estão meus filhotes?!, pensou ela desesperada. Saíram voando da caverna e rastrearam a área próxima a ela. Então avistaram dois grandes volumes a oeste e outros três pequenos. Sem pensar em que poderiam ser, voaram até lá.
Encontraram dois dragões mortos, Flame desmaiado, Helike nos braços de um humano e uma paisagem completamente devastada, como se um rio de lava tivesse passado por ali e destruído tudo. A vontade do pai era de voar e destroçar impiedosamente o jovem humano, mas, antes que ele fosse capaz de esboçar qualquer reação, a mãe dos filhotes interveio, impedindo de fazer qualquer coisa.
Ela notará que o jovem estava chorando enquanto abraçava Helike e, depois de ser barrado, o pai notou também. Então pousaram suavemente próximo ao jovem que olhou-os um tanto assustado, mas não recuou, apenas observou-os atentamente.
Ao se aproximarem o jovem soltou o dragão e aguardou eles se aproximarem, ele notou que ambos temiam o pior, que Helike estivesse morto, então ele simboliou suavemente: ‒ Eles estão bem, este adormeceu em meus braços e o outro foi atingido, mas esta apenas inconsciente. ‒ Ele não sabia se eles haviam entendido, mas ao notar um movimento de aceitação que ambos fizeram com a cabeça notou que entenderam.
O pai pegou Helike delicadamente com a boca, enquanto a mãe pegava Flame, e com o filhote na boca ele disse mentalmente ao jovem: Obrigado. Após isso voaram até o grupo para alertar sobre os dois dragões mortos.
Quando voltaram o jovem já havia sumido, impedindo-os de esboçar algum agradecimento mais concreto. Sendo assim, voltaram ao local onde seriam transportados de volta para Drunsgdom pelos anciões, que já haviam mandado as tropas de resgate por conta do atraso.
Because this is me ₢ Helike Long